"A introdução de alimentos para lá do leite materno faz-se idealmente quando o bebé está pronto para tal mudança.
Nem
todos os bebés estão prontos com a mesma idade. Alguns, poucos, mostram
esses sinais por volta dos 4 meses, a maioria por volta dos 6 meses,
sendo que alguns o fazem mais tarde, até cerca dos 8 meses. Raramente
uma criança não está pronta para comer nessa idade.
As
recomendações falam de 6 meses porque, por essa altura, as reservas de
ferro acumuladas durante a gravidez e parto começa a chegar ao fim. O
leite materno tem uma quantidade de ferro pequena, que por outro lado é
altamente absorvível pelo bebé... Só que não chega. O bebé é um ser em
crescimento, e necessita de ferro para o seu desenvolvimento.
Como
bem sabem as mães que já passaram por esta experiência, os bebés
mostram que estão prontos para comer através dos seguintes
comportamentos:
- quando metem qualquer coisa na boca, já
não põe a língua para fora (ou seja, perdem o “reflexo de protrusão da
língua”, um reflexo de protecção das vias aéreas).
- sentam-se bem direitos sem ajuda.
-
mostram interesse pela comida dos pais ou irmãos e já fizeram o
clássico "furto de comida da mesa", ou seja, já tiraram qualquer coisa
que estava no prato ou na mão dos pais e levaram à boca.
Quando
estes 3 comportamentos estão presentes, o bebé mostra aos pais que quer
comer. E começa uma aventura de descoberta de sabores e texturas. É bom
proteger o chão por baixo da cadeira da criança e esperar umas manchas
aqui e ali. Faz parte do processo de descoberta, até porque para as
crianças pequenas não há diferença entre explorar, brincar e comer.
Podem
pôr uma colher na mão do vosso bebés, ou simplesmente deixá-lo usar as
mãos, e permitir que explore e coma sozinho. Não há vantagens especiais
em ser outra pessoa a dar de comer à cirança, qualquer que seja a idade.
Obviamente, aqui vale o bom-senso e os gostos pessoais, como em
qualquer outra situação.
Para quem amamenta, pode ser
importante começar este processo dando de mamar antes de oferecer
comida. Várias mães referem que, ao darem antes de mamar ao bebé, a
aceitação de alimentos novos e da própria comida é maior. Afinal é ainda
uma introdução, um início, com o tempo a criança irá comer cada vez
mais e mais vezes.
Quanto às quantidades, é bom não ter expectativas. Há bebés que comem um prato cheio logo desde o princípio, mas a grande maioria
contenta-se com pequenas quantidades. Para se tranquilizarem, fechem a
mão do vosso bebé em punho. O estômago dele tem esse tamanho. Não cabe
lá assim tanta comida, não é?
Que alimentos escolher?
Vejamos as recomendações da American Academy of Pediatrics, que me parecem muito sensatas:
1.Não
há provas suficientes de que limitar a dieta da mãe durante a gravidez e
a amamentação diminua o risco de alergias: comam o que vos apetece.
2.
Não há evidência de que atrasar a introdução de alimentos suspeitos
(leite, peixe, ovos, avelãs, etc) para além dos 4-6 meses reduza o risco
de alergias a estes alimentos em pessoas predispostas. Para os
não-predispostos então, não há qualquer problema.
3- Há provas
minimas, quase inexistentes, do benefício dos leites especiais
hipoalérgicos, por isso é sensato não os utilizar, já que são
extremamente caros. O leite de soja não apresenta qualquer vantagem em
relação ao leite artifical "corrente".
4- É importante amamentar
quando se introduz o glúten, mantendo a amamentação durante pelo menos 2
meses. Assim reduz-se francamente o risco de intolerância ao glúten.
Portanto,
utilizem os ingredientes para as refeições familiares e reduzam-nos a
uma consistência que o vosso bebé consiga gerir. Evitem o sal e o
açucar, que são totalmente desnecessários.
Aproveitando
este momento de descoberta, podem-se introduzir hábitos mais saudáveis
na família. Procurem variar os alimentos, evitar alimentos
pré-confecionados porque quanto menos manipulação há, mais nutritivo se
mantém o alimento.
papa de arroz |
Uma opção pode ser a de fazer as papas
em casa. Cozer arroz, ou lentilhas, ou farinha de milho é relativamente
simples, rápido, e seguramente mais nutritivo do que usar uma farinha
alterada de forma a ser solúvel, somo são as das papas de bebé.
No
caso de quererem misturar leite na papa, como é tradicional mas não
obrigatório fazer-se, pode usar-se leite materno expresso ou, para as
mães que não amamentam, leite artificial.
Uma última
observação: respeitem os tempos e os gostos dos vossos bebés. Ofereçam
comida saudável, mas deixem-no escolher a quantidade e mostrar as suas
preferências.
Se se sentirem angustiadas ao seguirem esta
sugestão, conversem com o pai, com amigos, desabafem, mas não forcem a
criança a comer. A saciedade é um processo fisiológico e endócrino que
pode ser alterado por esta prática muito difundida. Numa sociedade a
braços com uma epidemia de obesidade e restante doenças associadas,
temos um papel importante em evitar que os nossos filhos percam as suas
capacidades fisiológicas de auto-regulação.
Boa aventura!"
Mónica Pina
Médica, Consultora de Lactação,
Moderadora da La Leche League
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