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domingo, 29 de março de 2015

Esta minha mania de falar em qualidade de educação....


Tudo começou à cerca de 34 anos atrás no meu primeiro dia de jardim de infância. Cheguei ao colo da minha mãe. Ela estava nervosa, eu senti isso no seu coração e na forma de me segurar, claro que a sua face esboçava um sorriso de forma a tranquilizar-me mas não em convenceu.
Até hoje retenho a imagem do espaço, da auxiliar, da bata dela, do cheiro, da minha mãe...
Ao chegarmos à sala (dos 3 anos) estava à porta a Custódia, mulher de cara fechada, sem sorriso, morena, cabelo castanho pelo pescoço, com uma bata vermelha, tipo avental que atava atrás e com folhos nos ombros (acho que por isso sempre detestei estas batas), de meia estatura e roliça. A minha mãe cumprimentou-a e apresentou-nos. Eu instintivamente, abracei a minha mãe, não gostei da receção. Pois se eu estava habituada a ter carinho, sorrisos, miminhos, colo, toque, brincadeiras, atenção e tantos beijinhos, como poderia ficar ali com aquela pessoa que mais parecia a madrasta da Cinderela?


O que aconteceu a seguir marcou-me para sempre e acho que influenciou a decisão de me tornar educadora.
Aquela estranha arrancou-me dos braços da minha mãe dizendo "pode ir embora que ela fica bem", nunca me esquecerei desta afirmação. Uma mentira. Pura e crua. A minha mãe afastou-se, olhou para trás enquanto eu chorava inconsolável e foi nesse momento que vi a sua dor em me deixar ali, a obrigação era maior que a vontade e por isso mesmo as lágrima caíram do seu rosto. A Custódia entrou comigo na sala, sentou-me num canto e disse "a tua mãe foi só ali e já vem não precisas de chorar"

Nunca me esqueci. Nesse dia nada fiz. Não comi, não dormi, não brinquei, não sorri, não conheci. Só chorei sentada no cantinho onde ela me deixara, cantinho esse onde a educadora costumava reunir o grupo. Era um espaço rebaixado na sala, tipo um buraco grande com várias almofadas. Ali fiquei mesmo com várias tentativas de aproximação da Guida (educadora).
Quando a minha mãe chegou ouviu "eu não lhe disse que ela ficava bem? só custam os primeiros minutos". Falsa. Nunca gostei dela.



Aquele dia surgiu várias vezes nos meus sonhos e quando um dia, talvez no 11º ano, comecei a pensar na área que gostaria de seguir, imaginava que podia ser educadora para não permitir que, pelo menos comigo, algumas crianças não tivessem que ficar com a mesma recordação com que eu fiquei.

Quando entrei para o curso passei por outra prova. No primeiro ano de estágio fiquei numa sala de 3 anos (coincidência...) com uma educadora pouco afectiva. Chamava-se Lena e tinha uma postura reta, não recorria ao toque, ao colo, ao afecto, fazia chamadas de atenção em tom grave, castigos, gritos também... Foi muito complicado estar com uma pessoa assim que ainda por cima tinha ciúmes meus... Quando comecei a ter mais confiança com o grupo (logo na 2ª semana e note-se que o meu estágio decorria de 4f a 6f semanalmente, no período da manhã) habituei-me a dar um beijinho a todos à minha chegada e à minha saída, brincava com eles nas várias áreas da sala, deixava que me penteassem, mesmo que isso implicasse chegar a casa e lavar o cabelo durante meia hora, dava colo (sim, sou dessas estranhas que gosta de toque), cantava e contava histórias sentada no tapete com eles, em vez de estar numa cadeira.... Com todas estas posturas valeu-me um 12, pois, "era ainda muito infantil e isso infantilizava o grupo", nota da avaliação.
Corri para a minha professora de Práticas Pedagógicas e chorei. Chorei e chorei e chorei. No fim disse "não estou aqui a fazer nada, não serei boa educadora". 
Este foi o segundo momento que marcou a minha decisão, pois a minha professora, de uma forma sábia manteve este diálogo: 
- dizes isso porque não concordas com a nota? 
- óbvio que não concordo
- achas que a Lena foi injusta? 
- acho que sim
- achas que ela está errada? 
- ela é a profissional, eu estou a aprender mas não me parece incorreto interagir com as crianças, acho que é até cruel a postura dela
- farias melhor?
- eu penso que sim
- então faz! agarra nessa revolta e transforma-a em algo positivo, na força para seres uma boa profissional.

Era o que eu precisava, estes dois ensinamentos.


Tirei o curso e comecei logo a trabalhar, passei por creche, jardim de infância, atl, trabalhei em privados, em ipss, no estado não por opção (nunca concorri), estive no comando de uma instituição durante 7 anos (e foi a melhor fase profissional que vivi, não pelo cargo mas porque podia trabalhar como gostava, como achava certo), também errei algumas vezes, entrei nos padrões porque tinha que ser, a obrigação, a imposição de chefias, a comparação com colegas, a pressão de pais... Tudo isso nos afasta da essência da educação.


Desde que fui despedida em agosto (sim, fui despedida por extinção do posto de trabalho, disse a diretora, mas na verdade ela não gostava que eu falasse, que eu apontasse o dedo, da minha relação com os pais, e, o mais importante, não gostava de que eu não "bajulasse") que comecei a rever tudo o que tinha feito, o que tinha dito, como o fiz e como o disse, o que me tinha incomodado, o que não tinha conseguido fazer e porquê, quem me tinha apoiado e eu não contava mas também quem eu esperava que me desse a mão e no final não estava lá, das desilusões, das alegrias, das lágrimas e sorrisos, dos meus meninos e seus pais, das minhas colegas... Tudo foi pensado e revisto. 
Concluí. Não quero trabalhar novamente segundo estes padrões que nos impõem tudo e tão pouco nos dão em troca (falo em reconhecimento), com tanta burocracia, com tantas comparações, com tantos "méritos", com tantos absurdos, com tantas negligências, tudo para bem parecer, tudo para ser o melhor. O melhor em quê? Se na verdade não existe qualidade de serviços. Tudo é dinheiro. Tudo são estatísticas. 
1 de agosto de 2014 foi um momento feliz na minha vida. Foi o ponto de viragem. Ao fim de cerca de 3 semanas estava eu a pesquisar sobre tudo isto e encontrei escondido no meu pc um documentário intitulado "Educação Proibida", de que já falei aqui.




Fez-me tanto sentido, revi-me em quase tudo e pensei: "mas existirão colegas destes e escolas destas em Portugal?". 
Desde então vou à procura. Vou a formações, a palestras, a workshops, vou visitar escolas com metodologias diferentes, vou a associações conhecer o seu trabalho, vejo outros documentários, ouço mestres, debato com amigos e familiares...

Na semana passada fui ao Monte do Estoril, Cascais, para ouvir o professor José Pacheco. Um SENHOR! Adorei a sua apresentação, a sua conversa, a sua perspectiva, a forma como vê a educação... (sobre isso escreverei mais tarde) e vim tão deslumbrada que pensei em partilhar. Mas esta partilha será faseada, pois, também sei que para muitos é aborrecido ler um texto desta extensão ou ver um vídeo com mais do que 5 minutos. 
Pensemos que nesses momentos estamos a crescer, a aprender a ser melhor, a aprender com mestres.

Continuo a dizer que é urgente que se 

EDUQUEM OS EDUCADORES 



Também por isso decidi partilhar convosco alguns dos vídeos/documentários que tenho visto e me têm feito repensar, cada vez mais, na educação. Assim, colocarei semanalmente (às 2ªfeiras) um desses vídeos que espero que vos faça sentir o que sinto.

Esta minha mania de falar 
em qualidade de educação...


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 clique para ver

I Filme 
II Filme 
III Filme 
IV Filme 
V Filme
VI Filme 
VII Filme 
VIII Filme
IX Filme
X Filme


Espero que tenha gostado e que
tenha mudado algo dentro de si.
Grata por assistir.

8 comentários:

  1. Boa noite e Tina! Gostei muito do seu post. De certa forma, revejo-me no seu desassossego. O mundo do trabalho formata-nos, não nos deixando agir como nos faz mais sentido. Boa sorte

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    1. Olá Ana, boa tarde. Agradeço o comentário e a leitura do meu texto.
      De facto, muitas vezes seguimos a corrente mais fácil mas nem sempre é essa que nos leva a bom porto. Como tenho dito várias vezes, sujeitamo-nos à formatação e ficamos presos a metodologias que em nada nos realizam nem são as mais benéficas para as nossas crianças.
      Cabe-nos a nós mudar isso. Boa sorte!

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  2. Gostei da sua, que passou a ser "nossa" reflexao!

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    1. Camila agradeço imenso o que disse, até senti um certo "peso", confesso. Este momento foi, apenas, um desabafo com vontade de tocar na sensibilidade de quem ainda não entendeu...

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  3. Olá Cristina. Sinto muito que tenha passado por algumas situações que não são as melhores. Mas ainda bem que tem essa capacidade de se distanciar, e tentar dar a volta. E ainda bem que tem uma conceção de criança como ser competente, capaz de construir estratégias de aprendizagem. E ainda bem que ouviu o Zé Pacheco. Esse “Senhor”, como lhe chama, tem uma conceção de educação , que vai muito para além das teorias…Ele acredita que a escola é um espaço onde vive o que se aprende, e aprende o que é vivido. É um lugar mágico, um lugar onde se vive em cooperação, onde se vive a aprendizagem conforme a realidade.
    A título de curiosidade, digo-lhe que foi com o Zé Pacheco, que aprendi isto ( e tudo o resto) no dia em que ele me levou à sua (minha) escola da Ponte, estava eu a pensar seguir Educação de Infância, (eu tinha 15 anos) e o meu irmão mais novo, era um dos seus alunos. A partir daí tive a certeza absoluta que seria Educadora, para "ensinar" as minhas crianças a verem o mundo maravilhoso da infância, e a sentirem a escola /JI como o espaço, onde aprender é fazer; é viver, pensar, criar, inovar, é dar valor àquilo que se aprende na convivência, expressando a própria vida. Acho que o vou conseguindo. Faço votos para que a Cristina o consiga também.

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    1. Rosa é sempre um prazer cruzar com alguém que aprendeu com o José Pacheco. De facto, a sua conceção é extraordinária e tão "simples" que seria estranho não absovermos o que ele passa.
      As contigências fizeram de mim o que sou hoje e sinto-me grata por isso, felizmente sempre tive a capacidade de ver o lado positivo de tudo o que acontece.
      Também espero conseguir. Obrigada.

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  4. Boa noite! Adoreo o seu texto...para quem gosta realmente de educação é de nós fazer "perder" no tempo. Parabéns por esta iniciativa, é pessoas assim que a educação precisa, com garra, sem medo...infelizmente encontramos pelo caminho muita gente com "fraca" vontade de acarinhar a educação...

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    1. Joana Aguiar (quase primas lol) obrigada pelas suas palavras.
      Levei algum tempo a chegar onde cheguei, como disse, também errei, olho para trás e revendo o meu percurso penso que está a valer tudo a pena porque tem sido através dos meus erros e esforço de melhorar.
      Mas sinto-me grata por ter sempre uma base: o respeito pela criança. Acho que se assim for, tudo o resto flui naturalmente.
      Já agora... medo? Tenho. Muito. De deixar marcas numa criança como deixaram em mim, de resto nada mais. O adultos não me metem medo porque defendo e argumento aquilo em que acredito.

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