Voltamos novamente às adaptações. Muito se fala sobre esta
temática, muito se escreve, debate, argumenta mas resumindo ao essencial
trata-se de respeitar o ritmo da criança e mostrar-lhe que naquele espaço e com
aquelas pessoas também está segura.
"Preparação e parceria com a
família são fundamentais para assegurar uma adaptação tranquila aos bebés que
vão à escola pela primeira vez"
É normal que exista uma preocupação dos Pais em relação à iniciação
dos seus filhos na creche, existem sempre dúvidas e receios tais como:
- Será que o meu filho vai ficar bem?
- Será que lhe darão a devida atenção?
- Será? Será?
Estas
dúvidas persistem sobretudo nos primeiros dias de creche, são por isso
dúvidas e inquietações normais. Afinal, vão deixar os vosso filhos, os
vossos bens preciosos a pessoas que lhes são estranhas.
No entanto e sem se aperceberem são os pais que transmitem a ansiedade e a angústia para as crianças.
Crianças inseguras, pais angustiados e sofrimento
diante da separação iminente. Este não precisa ser o retrato do início dos
pequenos na creche. É possível diminuir o desconforto e proporcionar uma
adaptação tranquila e saudável para os bebés e sua família. A fase de
acolhimento na Educação de Infância é diferente para cada faixa etária e requer
atenção redobrada com bebés até aos 2 anos. Afinal, quase tudo é novidade para
eles: a convivência com outras crianças e adultos (além do círculo mais
próximo), pinturas, jogos, rotinas...
O primeiro passo é conhecer bem a criança. Entender
os seus hábittos e medos ajuda a elaborar a planificação. "Quando percebem
que o educador sabe coisas que as fazem se sentir bem, elas ficam mais
calmas", diz Rosa Virgínia Pantoni, mestre em Psicologia e coordenadora de
assistência social da Creche Carochinha, ligada à Universidade de São Paulo
(USP).
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Marry Cassat |
A adaptação feita gradualmente ajuda a criança a ir moldando-se às
rotinas e ao que a rodeia na creche, sem que seja de uma forma brusca e
repentina, fará com que a ansiedade vá diminuindo.
É claro que esta adaptação também tem de ser feita pelos pais, pois é
mais fácil a criança habituar-se à ausência parental, do que os pais à
ausência dos filhos!
É importante que haja da parte dos pais uma transmissão de segurança e
conforto quando deixa os filhos na creche, mesmo que as crianças
implorem ou façam birras. Os pais não devem ceder, e devem ter uma postura firme,
mostrando-lhes e dizendo-lhes com todo amor e carinho que precisam de ir
trabalhar. Ao longo do tempo a criança vai perceber que esta é uma
rotina diária, que os pais a deixam na creche e que ao final do dia a
vão buscar. É esta rotina que faz com que a criança se sinta segura e
que vá conseguindo estabelecer um elo de ligação com a escola.
Nesta altura a criança deixa de fazer as birras e já consegue suportar a ausência dos pais.
Não nos podemos esquecer que como adultos devemos dar o exemplo,
mostrando às crianças o que é benéfico para elas, colocando de lado os
nossos medos e angústias.
O choro nos momentos iniciais da separação é normal e deve passar logo, à
medida que a criança percebe que é acolhida e compreendida. Caso
persista, isso pode ser sinal de insegurança. Outras manifestações de
desconforto são o sono constante, a apatia e a recusa em comer. Reuniões e
estudos periódicos permitem aprofundar o conhecimento a respeito do universo
infantil e agir nesses casos. .
NOTA PARA OS PAIS
Processo de
acolhimento
das crianças e das famílias
(2-3 anos)
Objetivos
- Envolver as famílias que chegam à escola pela primeira vez num clima de
acolhimento, segurança, cuidado e afeto.
- Incluir as crianças na construção do espaço e do tempo da escola (rotina)
- Acolher as singularidades de cada criança e incluí-las no desenvolvimento das
situações planeadas.
Conteúdos
- Inclusão das famílias no processo de adaptação
- Envolvimento das crianças na construção da rotina
- Respeito e valorização das singularidades das criança
A criança chora, esperneia,
fica triste, agressiva, não come, afasta-se para um canto, são tudo
reacções a este abandono repentino com o qual têm dificuldade em lidar.
Cabe aos adultos que lidam com as crianças estar atentos aos sinais, ver
como evoluem e perceber se ao fim de algum tempo a criança conseguiu
integrar-se no espaço e estar feliz.
Aos pais cabe indagar sobre
isso mesmo, como está a criança a fazer a sua adaptação, se está a
correr bem e o que podem fazer para facilitar.
Não se enganem: não é só a
partir do básico que é importante saber qual é a evolução da criança. É,
agora, na creche, no jardim-de-infância, a partir do momento em que lá
entraram. Porque é a partir dessa altura que iniciaram um processo de
desenvolvimento crucial nas suas pequenas vidas, das quais os pais têm
de ter conhecimento. É uma fase crítica e muito importante.
O que fazer para ajudar na integração do seu filho
na creche/jardim de infância?
"É
importante que lhe dê a conhecer o espaço onde vai passar a estar no
dia-a-dia, nomeadamente a sala, espaço refeições, casas de banho,
recreio e outros locais vai utilizar. Falar com a educadora na presença
dele. Quando chegar a casa pode falar com o seu filho, de forma
entusiástica, dos bonitos espaços que viu, onde vai aprender e onde vai
brincar.
É importante referir
sempre o facto de ir ter tantos meninos e meninas com quem vai brincar,
como vai pintar, fazer jogos, apelando especialmente às coisas de que
ele gosta.
No primeiro dia é
importante que passe algum tempo com o seu filho, que não vá a correr
deixá-lo à porta do infantário. Faça as coisas com alguma calma na
primeira semana, apesar de a vida nem sempre permitir, será bom que faça
o esforço.
Estacione o carro, e vá
com ele até à sala, fale com a educadora, com outros pais que ali possam
estar. Faço-o sentir que aquele espaço é dele, mas que está lá para o
apoiar. Se puder não o deixe fazer o horário completo. Vá buscá-lo antes
do fim do dia e pergunte-lhe o que fez. Essa partilha vai permitir-lhe
sentir-se mais confiante.
Mas não seja demasiado protector,
não é isso que se pretende. A criança tem que ir conquistando a sua
autonomia e confiança. Ajude-a a ultrapassar os problemas, mas não lhos
retire do caminho."
Zélia Parijs, psicóloga
Considerações finais
«Há crianças que são muito curiosas e gostam de explorar coisas novas,
mas quando o espaço deixa de ser novidade e percebem que estão
‘sozinhas’, no meio de outras crianças e de adultos que não os pais,
mostram-se desconfortáveis», refere Sofia Silvério, psicóloga do Núcleo
de Psicologia do Estoril. E acrescenta: «Em alguns casos, a criança
parece adaptada ao local e aos colegas, mostra-se interessada e
participativa nas actividades, mas, de repente, muda o seu
comportamento, isolando-se, chorando quando vê os pais e recusando
participar nas tarefas». Quando esta atitude é adoptada pela criança, a
psicóloga não tem dúvidas em dizer aos pais para não se deixarem
enganar, já que, «na maioria das vezes, é apenas uma tentativa da
criança ‘tentar a sua sorte’ e voltar para casa, para junto do conforto
dos pais».